acordo ainda um pouco tonto, como que caminhando entre a névoa do sonho e o real. sinto tua presença, te abraço, o calor, puxo você pra mais perto e penso que é preciso dormir mais, é preciso descansar mais, é preciso ficar mais junto, é preciso parar um pouco esse despertador de celular que grita nos meus ouvidos ainda não totalmente despertos.
aperto o botão soneca, mais cinco minutos, somente isso, antes era dez, mas a frequência com que eu perdia a hora fez com que mudasse e sacrificasse o sono e estes momentos estranhos. aproveito cada segundo desses cinco minutos extras, te sentindo ao meu lado, quieto, pra não te acordar mais do que a irritante gritaria do celular.
é uma segunda-feira e eu aperto novamente o soneca, é uma segunda-feira e a vontade zero de levantar e sair desse meu quarto pequeno, bagunçado, escuro, solitário exceto por nós, nenhum outro ser vivo, nem um peixe, cachorro, planta que seja, nenhum deus, apenas nós. apenas essa letargia completa explica nosso hábito, o dramin do domingo, o comprimido - uns dois reais a cartela na farmácia da esquina, viva os químicos e a ciência moderna - que nos coloca nesse torpor de amantes em perfeito descanso até o amanhecer do primeiro dia de mais uma semana.
de mais uma semana de ônibus, metrô, horários, reuniões, relatórios, textos, telefonemas, atrasos, chefes, diretores, gerentes, estagiários, prédios, avenidas, metrô novamente, barulhos de britadeira intermitentes e irritantes na obra ao lado. mais uma vez o botão soneca.
você se mexe lentamente, então, como que começando a acordar depois de tanto despertador, e eu te aperto mais e beijo seu rosto enquanto tento mais alguns minutos de sono. da rua vem o som dos ônibus passando, sempre aquele barulho alto, irritante, que nos lembra o caos e o ritmo selvagem da cidade grande. no terceiro andar não ouvimos neste momento as vozes de gente, apenas os carros; nada de pássaros, apenas os ônibus. do vizinho vem um ruído de chuveiro ligado, é mais um que acorda rumo à segunda-feira.
antes que o despertador soe novamente, desligo o celular. lentamente, levanto e vou também rumo ao banho matinal, a água quente que cai devagar pelo corpo. a solidão no chuveiro, um cubículo branco apenas. o som da água caindo ao chão, o chuveiro esquentando a água, a água caindo ao chão, o silêncio ao redor disso tudo.
assim começa a segunda-feira. a cabeça na sexta e no dramin do próximo domingo. a vida acontece sem pressa nesses intervalos, aparecendo de pouco em pouco quando nos vemos, seja num barzinho, seja no meu apartamento bagunçado. e volta a desaparecer no paletó, no metrô, nas ruas. mi vida eres tu. não é assim aquela música do vanguart que a gente gosta?