sexta-feira, 4 de novembro de 2011

go te jan do

- vou te contar uma coisa mas vou dizer bem baixinho assim meio sussurrando pra ninguém ouvir embora estejamos só eu e você na minha apertada cama de solteiro e embora eu possa dizer que nesse momento parece que só existimos nós no mundo repara só como não tem barulho nenhum lá fora mesmo com o sol começando a entrar pela janela e agora repara que o único som além de nossa respiração e do meu falar vem do banheiro como que água escorrendo e é isso mesmo é a minha pia a minha torneira que está quebrada e não para nunca de vazar e fica esse barulho de rio passando e ninguém pode saber o síndico não pode saber para não me multar e os ambientalistas não por causa do meu disperdício mas a verdade é que tem que ser segredo porque preciso te contar que deixo ela assim aberta de propósito que eu poderia fechar o registro e parar tudo mas eu ignoro e ouço agora do teu lado esse rio correndo pia abaixo devagar devagar e isso tudo é porque eu quero que você entenda que eu às vezes sou assim que eu escorro como que me desmanchando e é por isso que pareço em alguns momentos tão intenso e em outros tão lento e apenas seguindo a gravidade e quando você vê não há nada apenas um filete da água que jorrava quando a torneira estava aberta e você pode tentar fechá-la que alguma coisa vai continuar saindo nem que gota a gota no irremediável caminho rumo ao ralo e é isso que acontece com meu amor que surge rápido qual explodindo uma barragem e logo começa a diminuir feito torneira fechando e no final é um filete e a merda toda é que eu não consigo consertar o vazamento então sigo escondendo o segredo de todos e evitando tomar multas de condomínio e eu já estou me repetindo mas é que é assim cíclico então vamos só ficar quietos de novo e dormir abraçados que eu juro que te amo mesmo que não tenha conserto.

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