eu tinha muitos planos, sabe, quando apareci por essa cidade e por esse centro que ainda consegue me enganar todos os dias. uma vez por semana o 747 mente rumo ao posto da prefeitura onde eles me dizem que ainda não, pra voltar semana que vem e eu volto pro meu canto. o hotel cobra quinze reais ao dia e isso a gente consegue de qualquer jeito, em qualquer lugar, hoje qualquer pé rapado tem uma nota de vinte nos bolsos. no carnaval teve festa na rua e lembro de mendigos e playboys comprando latinhas do camelô a preços inflacionados. mais caro que o frigobar, penso, enquanto pego uma brahma e sento na cama, colchão daqueles velhos, poeirentos e com rasgos acumulados.
no quarto do lado tem uma moça que atende por vinte reais a meia hora e no segundo andar tem um dividido por três nóias. começo a tomar a cerveja e pego o celular, aparelho daqueles antigos, para vasculhar a agenda e lembrar que estão todos em outro DDD. eu ainda não consigo entender porque não deu certo, ainda não consigo conceber as noites no hotel tranqueira que parecem cada vez fazer menos sentido e custar mais. ligo para a menina do 322, mas o telefone só chama. levanto da cama e ensaio descer à rua, mas não parece fazer sentido. ligo novamente e nada. chamo na recepção e pergunto por ela. não sabem dizer. olho mais uma vez o celular para ver que não anotei o número. abro a carteira e vejo que, porra, eu tenho os vinte reais, tenho uns quarenta. ligo a televisão e aparece só o símbolo da emissora na tela, um relógio e uma promessa implícita de que a programação volta ao normal pela manhã, umas seis horas, talvez antes, com telecurso, educativo, coisa assim.
deito na cama e troco para o canal adulto. duas mulhares se agarram, um cara chega no meio. abro o zíper e coloco a mão dentro da calça.
cochilo dois minutos depois.
sonho com o telefone tocando, é ela, acaba de chegar no quarto, está vindo, promete por quinze reais. acordo com o pau na mão, mole, o filme já acabou.
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