segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

quando não falar é dizer mais do que se pode

já andou por alguma cidadezinha de interior no meio da madrugada, num dia de semana, assim, sem mais nem menos? as luzes todas apagadas, uma ou outra lâmpada perdida que fica acesa pelo caminho e parece apenas uma prova de que tudo saiu correndo tão rápido que mal se deu ao trabalho de apertar um botão. aqueles mosquitinhos voam em volta da claridade e ao longe dá pra ouvir os grilos. mas na verdade você não ouve, porque eles também fazem parte do silêncio, do total e absoluto silêncio. então você dá um passo e escuta o som de seus próprios pés no mato ou na lama e não tem como não se sentir um intruso, um estranho, um ruído. por isso você para. silencia. como se desaparecesse. mas ainda está ali, como a lâmpada acesa. e aos poucos vai tomando gosto pela escuridão e pelo vazio da noite avançada. pelo quase não existir, pela ausência do tempo. é o que acontece. quando começo a escrever, rompo esse silêncio quase sagrado. se antes eu queria avançar e encontrar algum caminho, agora quero somente ficar parado e me misturar, qual camaleão, a esse momento zero. camuflado na sombra, eu sou só silêncio e nada.

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