desci então do ônibus pronto para mais uma espera naquela que me parecia a avenida com mais ventos no país todo. desci e a vi no ponto de ônibus e foi assim, como pousar os olhos sobre um ser de outro planeta. um casaco verde, um bonito casaco verde sobre os ombros, os cabelos pretos caindo por sobre eles, o rosto pálido, os olhos negros, castanho escuros - que seja - um não-sorriso no rosto, a expressão séria, a blusinha preta e o jeans descompromissado e o olhar à espera ela também de um ônibus - qual seria? - e os all star nos pés e eu juro que aquilo me matava, cada detalhe. peguei o nelson rodrigues para fugir, pois não podia ficar ali encarando-a, sob a pena de passar por tarado ou doente mental. mas, céus, eu de pouco em pouco abandonava as páginas que falavam justamente de amor, do excesso de amor, as crônicas que pareciam me mostrar que ele ainda estava ali. o amor mais exacerbado e mais idiota e gratuito.
passou o 784 e ela subiu.
fiquei olhando primeiro enquanto fazia o sinal, depois como se encaminhava para a porta e subia, indo, indo, lá dentro, passando pela catraca, o ônibus saindo, partindo, para longe, pela avenida mais triste do mundo.
tentei voltar ao livro, mas não conseguia me concentrar.
passou o 383 e eu subi. sentei na primeira cadeira que vi e encostei a cabeça no vidro. dormi como uma criança. dormi com sonhos bons.
era o amor mais idiota, mais repentino, mais inoportuno e mais bonito da minha vida. eu nunca mais ia vê-la. mas não iríamos brigar, não ia haver mágoa, não ia haver más recordações. foi bonito, eu pensei, quando acordei milagrosamente no ponto e comecei a então curta caminhada até em casa. porra. foi bonito.
Gostaria de saber o que Paulo Silva Junior acha disso...
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